Na era das promessas de transformação rápida, uma palavra se destaca como mantra: engajamento. Mas antes de correr tentando engajar todo mundo pra sei lá onde e sei lá porquê, é preciso analisar profundamente o que realmente significa engajar no contexto corporativo e qual a linha tênue que separa o engajamento genuíno da ilusão de estar engajando.
Engajar é diferente de enganar.
Com apenas uma letra de diferença, as consequências dessas ações são colossais. De um lado, temos o verdadeiro engajamento, que gera transformação, cria relacionamentos sólidos e impulsiona a inovação. Do outro, temos a ideia de enganar, que se disfarça de engajamento, mas apenas vende promessas vazias, criando uma falsa sensação de progresso sem um impacto real.
O que vejo com frequência nas organizações é uma tentativa de engajamento que não passa de uma fachada cuidadosamente construída para cumprir protocolos de engajamento sem realmente incluir as pessoas no processo de transformação. E aqui entra o ponto mais crítico: engajar não é sobre “agradar” ou “vender um futuro perfeito”. É sobre dar às pessoas um propósito claro, um senso de pertencimento e uma jornada onde elas possam ver o impacto de suas contribuições.
O verdadeiro engajamento: mais que palavras, ações concretas
Engajar não é apenas convencer. É conectar, é investir nas pessoas, no desenvolvimento delas, e não em um discurso decorado. O engajamento genuíno nasce da confiança, da transparência e da criação de relações de valor entre todos os envolvidos. Requer tempo de qualidade e diálogo.
Um exemplo claro de engajamento genuíno é a liderança que sabe que, em tempos de mudança, o desconforto é inevitável. Quem promete uma mudança tranquila e sem desafios está enganando. Mudança, como Daryl Conner, um dos grandes estudiosos da gestão de mudanças, coloca em seu livro Managing at the Speed of Change (1998), não é um processo suave e linear. A mudança é desconfortante, cria resistências e é cheia de incertezas. Ignorar isso é um erro e dos grandes, pois leva a uma ilusão de que todos estão “a bordo”, quando, na verdade, estão apenas fingindo, sem realmente se comprometerem com a transformação.
O líder engajador precisa, antes de tudo, estar preparado para lidar com a resistência e acompanhar o processo de adaptação das pessoas à nova realidade. Quando o processo de engajamento se baseia apenas em promessas de benefícios rápidos e não oferece suporte contínuo e oportunidades de aprendizado e adaptação, tacharam: ele se transforma em mero engano.
Engajar não é enganar
As narrativas, slogan, campanhas de comunicação não só podem, como devem fazer parte dos processos de mudança, mas de forma alguma devem ser jogadas ao vento. Quando as empresas se concentram nesse tipo de engajamento superficial, o que estão realmente fazendo é manipular emoções para conseguir um compromisso de curto prazo. Engajar é diferente de enganar porque não envolve promessas vazias. Envolve compromisso, escuta ativa e ações consistentes que demonstram que a mudança é real.
Peter Senge, em seu clássico A Quinta Disciplina (1990), fala sobre a importância das organizações que aprendem, onde o verdadeiro engajamento é fomentado através da exploração conjunta e do comprometimento com a aprendizagem contínua. Para ele, organizações que se comprometem com o aprendizado genuíno são aquelas que transformam não apenas seus processos, mas as próprias pessoas que fazem parte dela.
Engajar é sobre criar um ambiente em que as pessoas realmente sintam que suas contribuições têm valor, onde as falhas são vistas como oportunidades de aprendizado, e onde cada um entende claramente o seu papel na jornada de mudança.
Quando isso não acontece, e a mudança é tratada apenas como algo que “tem que ser implementado”, sem considerar o contexto humano e emocional, você está enganando, não engajando.
Acredito fortemente que ninguém é obrigado a mudar e que todos são livres para determinar suas escolhas, inclusive as não tão fáceis, individuais ou organizacionais. Porém, essas escolhas devem considerar tempo, oportunidade para mudança e gerenciamento das emoções naturais do processo (que sim, para algumas pessoas são mixed fellings na máxima potência). Resumindo, uma resistência inicial pode apenas ser parte inicial de uma mudança de sucesso.
Engajamento genuíno: o que falta?
O engajamento verdadeiro, como defende Daniel Goleman em seus estudos sobre inteligência emocional, exige que os líderes se conectem emocionalmente com suas equipes, entendendo não apenas o que está acontecendo “no papel”, mas também como as pessoas sentem e se relacionam com a mudança. Goleman aponta que um líder emocionalmente inteligente é aquele que compreende as emoções dos outros e sabe como lidar com as resistências de forma empática e estratégica.
No entanto, muitos líderes ainda acreditam que engajamento se resume a reconhecimento superficial ou à distribuição de prêmios e bônus. E isso é, mais uma vez, um engano. A verdadeira motivação vem de uma conexão emocional profunda, onde as pessoas não apenas se sentem reconhecidas, mas também compreendidas, ouvidas e apoiadas.
O grande desafio: você está realmente engajando ou apenas enganando?
Então, qual é a sua escolha como líder? Você está realmente engajando ou apenas criando uma ilusão de mudança? A diferença é clara: enquanto o engajamento verdadeiro exige autenticidade, transparência e compromisso contínuo, o engano só se sustenta enquanto a mentira for “engolida”. Quando a verdade começar a aparecer, o engajamento de fachada se desintegra e a confiança, tão difícil de construir, é destruída.
Engajar é diferente de enganar. Engajar é criar um ambiente onde todos têm a oportunidade de se desenvolver e se adaptar às mudanças, entendendo que o processo de transformação será desafiador, mas também cheio de oportunidades de crescimento. Enganar é simplesmente criar uma narrativa de sucesso sem entregar as condições reais para que a transformação aconteça de forma genuína.
Liderança é sobre facilitar esse processo. E, se você está pronto para ser o líder que realmente engaja, e não apenas o que “vende a mudança”, então a verdadeira transformação começa com você.
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