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A Gestão de Mudanças é Irrelevante nos Processos de Transformação. Será?

Apesar do crescente reconhecimento da importância do fator humano nos processos de transformação organizacional, os profissionais de Gestão de Mudanças (GMO) ainda enfrentam um desafio recorrente: a falta de valorização e protagonismo dentro das organizações.
Muitas vezes, são vistos como “apoio” ao projeto, e não como agentes estratégicos da entrega de valor.
Mas por que isso acontece, e mais importante, o que podemos fazer para mudar esse cenário?

A raiz do problema: percepção limitada de valor

Grande parte das equipes de projeto e dos líderes organizacionais ainda não compreende plenamente o valor que a Gestão de Mudanças entrega.
Por falta de clareza sobre os resultados tangíveis dessa disciplina, ela acaba sendo associada apenas a ações de comunicação, treinamentos ou questões ligadas à motivação e espírito de equipe. Sem falar nos casos em que o gestor de mudanças vira o “faz tudo”: agenda sala de reunião, contrata o coffee break etc.
Essa visão reduzida faz com que a GMO seja tratada como algo “soft”, sem conexão direta com os resultados do negócio.

Ocorre que o sucesso de um projeto não se mede apenas pela entrega de um produto, sistema ou processo, mas pela capacidade das pessoas de adotá-lo e usá-lo plenamente. Só assim, de fato, um projeto é capaz de entregar valor à organização.
E é exatamente aí que a Gestão de Mudanças faz toda a diferença. Entretanto, para que esse valor seja percebido, é preciso mensurá-lo através de indicadores de prontidão e consolidação das mudanças, e comunicá-los de forma objetiva, no idioma do top management.

Uma questão cultural

Outro fator é a cultura organizacional dominante, muitas vezes excessivamente racional e orientada a entregas técnicas.
Nessas culturas, o que é tangível (prazo, custo, escopo) tem prioridade sobre o que é intangível (comportamentos, percepções, engajamento).
Assim, o “fator humano” acaba sendo visto como um risco a gerenciar, e não como um pilar estratégico viabilizador da transformação. Para que a Gestão de Mudanças seja aceita neste modelo cultural, vetores quantitativos tornam-se ainda mais relevantes, pois aproximam-se do foco no que é mensurável.

Além disso, a maturidade da Gestão de Mudanças (GMO) ainda é desigual quando comparada à da Gestão de Projetos.
Enquanto esta tem décadas de institucionalização, a GMO ainda luta por espaço e reconhecimento, muitas vezes sendo envolvida tarde demais ou sem um papel claro na governança do projeto, atuando essencialmente em atividades operacionais.

O caminho da valorização: da narrativa ao resultado

Se queremos mudar essa percepção, precisamos mudar nossa narrativa e nossa prática.
O profissional de Gestão de Mudanças deve ser visto e atuar como um consultor estratégico de transformação, não apenas como um executor de planos de comunicação e treinamento.

Para isso, algumas ações são essenciais:

a) Conectar-se aos objetivos estratégicos

Todo plano de mudança deve começar pela pergunta:

“Como esta mudança contribui para os objetivos estratégicos da organização?”

A partir dessa conexão, é possível alinhar indicadores de mudança aos indicadores de negócio, tornando visível o impacto humano na performance organizacional.
Quando a liderança percebe que a adoção da mudança influencia diretamente resultados de negócio, tais como: financeiros, de produtividade ou de satisfação do cliente, crescimento do market share etc., o valor da GMO se torna incontestável.

b) Medir a consolidação e o ROI da mudança

Muitos profissionais de mudança ainda resistem à ideia de medir resultados, mas é justamente aí que está o ponto de virada da valorização.
Mensurar o ROI da Gestão de Mudanças não significa transformar o humano em número, mas mostrar numericamente o impacto positivo do fator humano nos resultados do negócio.

Veja alguns exemplos práticos:

Exemplo 1 — Aumento de produtividade

Em um projeto de transformação digital, após um plano de mudança estruturado:

  • O tempo médio de execução de uma atividade reduziu de 10 para 8 minutos.
  • O volume médio de erros caiu 20%.
  • Cálculo de ROI:
    Economia de tempo + redução de retrabalho = ganho financeiro direto.
    O custo do plano de mudança pode ser comparado ao ganho obtido, mostrando um ROI positivo e tangível.
Exemplo 2 — Redução de resistências e turnover

Em uma reorganização estrutural, o turnover previsto era de 12%, mas, com a atuação ativa de GMO, caiu para 6%.

  • Cálculo de ROI:
    Cada funcionário retido representa economia em custos de substituição, treinamento e tempo para se alcançar a produtividade desejada.
    Se o custo médio de reposição é de R$ 40 mil, e 10 colaboradores foram retidos, a economia inicial é de R$ 400 mil. Deduzindo-se o investimento em GMO, chega-se ao ganho efetivo.
Exemplo 3 — Aceleração da adoção plena de um novo sistema

Um novo sistema corporativo foi implantado em duas unidades.
A unidade com plano de mudança estruturado atingiu 90% de uso pleno em 3 meses; a outra levou 6 meses.

  • Cálculo de ROI:
    Os 3 meses de antecipação representam ganhos de produtividade, melhor utilização do investimento tecnológico e entrega antecipada de benefícios financeiros. Todos os indicadores de redução de custos através de ganhos de produtividade e sinergia poderão indicar claramente o valor efetivo agregado pela GMO.
Exemplo 4 — Impacto em indicadores de negócio

Mudanças culturais e comportamentais podem ser ligadas a indicadores estratégicos, como:

  • Satisfação do cliente (NPS);
  • Absenteísmo;
  • Segurança operacional;
  • Receita por colaborador;
  • Valor da marca/imagem organizacional;
  • Qualidade e inovação.

Essas métricas, quando correlacionadas às iniciativas de mudança e monitoradas no tempo, demonstram a influência direta da adoção humana sobre resultados corporativos.

c) Falar a língua do negócio

Profissionais de Gestão de Mudanças precisam traduzir o impacto humano em linguagem executiva: ROI, produtividade, satisfação do cliente, engajamento, redução de churn, eficiência operacional.
É assim que a disciplina ganha credibilidade junto à alta liderança e passa a ser percebida como investimento, e não custo.

De gestores de mudança a líderes de mudança

Outro passo essencial é ampliar o foco da capacitação.
Não basta formar profissionais especializados em Gestão de Mudanças; é preciso formar líderes de mudança — pessoas capazes de inspirar, influenciar e mobilizar equipes durante as transformações.

A verdadeira transformação organizacional acontece quando a liderança incorpora a competência de gerir o fator humano como parte de seu papel cotidiano.
Ou seja, quando “Change Management” torna-se “Change Leadership”, deixa de ser uma função específica e passa a ser uma competência organizacional.

Isso exige:

  • Treinamentos voltados à liderança adaptativa e empática;
  • Desenvolvimento de habilidades de influência, comunicação e foco no fator humano;
  • Criação de redes de embaixadores e agentes de mudança que ampliem a capacidade de mobilização dentro da organização.

O futuro da profissão: protagonismo e propósito

O futuro da Gestão de Mudanças depende menos de reconhecimento externo e mais da capacidade dos próprios profissionais de se posicionarem como protagonistas da transformação.
Isso implica compreender o negócio, falar a língua dos executivos e usar metodologias que comprovem, com dados e indicadores, o impacto humano nos resultados.

Gestão de Mudanças não é sobre fazer as pessoas aceitarem o novo, mas sobre criar as condições para que elas prosperem no novo.
E quando as organizações entenderem isso e nós soubermos demonstrar, o reconhecimento virá naturalmente.

A pouca valorização dos profissionais de Gestão de Mudanças não é apenas um problema de percepção, mas sim um reflexo de como ainda tratamos a mudança: como evento técnico, e não humano.
Mudar isso exige que os próprios gestores de mudança liderem a transformação de sua profissão, demonstrando, com evidências e resultados, que o sucesso de qualquer transformação é medido não apenas pelo que é entregue, quando foi entregue e com qual custo, mas pelo quanto as pessoas mudam, aprendem e a organização evolui, transformando intenções (estratégia) em ações eficazes (programas e projetos que introduzem mudanças sustentáveis).

Gerir a mudança é humanizá-la.
E humanizá-la é, também, dar protagonismo àqueles que tornam a mudança possível: as pessoas.

NOTA: Esse artigo foi inspirado em respostas colhidas na Change Management Global Survey – 2025, que se encontra na fase de compilação de dados.

Gostou deste artigo? Para saber mais sobre Gestão de Mudanças e como reduzir o antagonismo e melhorar o engajamento dos stakeholders, recomendamos que você leia também esse artigo: https://gestao-de-mudancas.hucmi.com/embaixadores-das-mudancas-organizacionais/

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